Mãe Mar
Luci Afonso Andamos lado a lado na praia vazia, catando as raras, minúsculas conchas trazidas pelo mar. Hoje faço cinquenta anos. Ela tem setenta e ainda cuida de mim: — Movimenta o braço! Pisa na água! Cadê a bolinha? Ela insistiu muito para que eu viesse nesta viagem. Providenciou reservas, passagens, estada. Andou de avião pela primeira vez, para que pudéssemos ficar vinte dias em Guarapari, conhecida pelas propriedades medicinais das areias monazíticas. O atual nome da cidade, que significa “armadilha de pássaro”, e o antigo, “garça manca”, são adequados à minha situação. — Você precisa se mexer, sair do lugar! — ela incentiva. Estas férias são minha última esperança de retomar a vida normal. Após o diagnóstico, sinto muito desânimo e saio pouco. Não dirijo mais, só ando de táxi ou carona. Não me adaptei aos remédios, não comecei a fisioterapia, não estou fazendo atividade física, que supostamente me traria bem-estar. Não, não, não. Continuo me perguntando: por que eu?