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Mostrando postagens de agosto, 2008

27ª Feira do Livro de Brasília (I)

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A Thesaurus Editora promove no seu estande o tradicional Bate-Papo com o Escritor. Alexandra Rodrigues e eu lá estaremos nos dias e horários abaixo, divulgando nossos livros "Minha avó botou um ovo" e "Velhota, eu?". Quem ainda não leu o nosso trabalho, terá a chance de fazê-lo. Quem já o conhece, desfrutará igualmente de um agradável bate-papo com as "crônicas e agudas", segundo definição do escritor e professor Marco Antunes, do Núcleo de Literatura do Espaço Cultural da Câmara dos Deputados. Dia 05/09, sexta-feira, das 14h30 às 16h30 Dia 06/09, sábado, das 20h às 22h Pátio Brasil Shopping http://www.camaradolivrodf.com.br/camara/feiralivro2008

27ª Feira do Livro de Brasília (II)

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O SINDILEGIS conquista estande próprio na Feira do Livro, após seis anos de política cultural que incentiva a produção literária dos servidores da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e do Tribunal de Contas da União. Além de "Velhota, eu?", estão à venda livros de André Amaro, Isolda Marinho e Emanuel Mazza, entre muitos outros. Pátio Brasil Shopping, de 29 de agosto a 7 de setembro. http://www.camaradolivrodf.com.br/camara/feiralivro2008

Papai Sacanoel

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Luci Afonso As luzes de Natal já brilhavam no prédio. Cumprimentou o porteiro com os olhos baixos. Achou-se feia no espelho do elevador. A secretária a olhou com um sorriso indefinível. — O doutor já está terminando. Água ou cafezinho? Fique à vontade, vou dar uma descidinha para lanchar. Teve de esperar um pouco até sair a outra cliente. Estava nervosa, pois não o via há um mês. Ele viajara em férias com a família. Quando entrou no consultório, ele ordenou, da poltrona:— Tire a roupa e deite-se na mesa. - Sempre começavam assim. Observou-a enquanto se despia e ia se aproximar quando o telefone o interrompeu. Era a esposa.— Oi, querida. Já pegou o carro novo? Estou atendendo a uma emergência. Te ligo quando acabar - desligou, apressado. — Faz aquela cara safada que eu gosto! — Esqueci como é - mentiu ela. — Vou te ajudar a lembrar. Abre a perna. Mais... mais... Ela estava quase se lembrando: ele segurava seus braços e sussurrava os nomes que ela adorava ouvir, enquanto fazia tremer a m

Professor Pelé

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Luis Fernando Verissimo James Joyce dizia que o leitor ideal é o leitor com insônia. O que sugere um paradoxo: não adianta ler a noite toda e ficar inteligente se no dia seguinte você parecerá um zonzo por falta de sono. A regra deveria valer para os leitores dos livros de Joyce. Eu consegui ler todo o “Ulysses” (só não me peça para contar) mas decidi que tinha que escolher entre ler “Finnegans Wake” e viver. O fato é que já tive muita insônia, e mais tempo do que tenho agora, e por isso li bastante. Hoje me transformei num leitor de trechos, ou de notícias e artigos, que, pensando bem, também são trechos desta grande obra que ninguém sabe como vai terminar, que é a atualidade. Quando me perguntam sobre literatura brasileira e internacional, novos autores, etcetera, e não quero dizer que não leio mais como lia e por isso sou um abjeto desinformado, digo apenas que tenho dormido melhor, ultimamente. O que talvez explique esta cara de quem lê muito, e as perguntas. A falta de insônia e d

Probleminha

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Luci Afonso — O seu texto está bom... - ele começou, olhando o relógio. — Ufa! Ainda bem. O senhor não sabe como precisei criar coragem para vir aqui hoje. Lembrei que era dia de atendimento aos alunos e pensei: “Vou dar uma passadinha lá, não custa nada, ele não morde...” Quando fico nervosa, meu cérebro entra em hiperventilação. Quase desmaio no elevador... — Desculpe-me, esqueci seu nome... — Pode me chamar de Jô. — Pois é, Rô... — Jô. — Pois é, Jô, como eu dizia, está bom, só tem um probleminha... — Deve ser porque não escrevo faz muito tempo. É uma concordância, uma conjugação? Os verbos dão tanto trabalho! — Trabalho quem vai me dar é você - pensou ele, com um falso meio sorriso. Ele voltara à sala apenas para pegar a carteira. Tinha um encontro com uma loira maravilhosa no bar de um famoso hotel da cidade. Era uma turista americana, de passagem por Brasília, e com quem antecipava momentos inesquecíveis. Estava bem-vestido, perfumado e excitadíssimo. Ia fechando a porta quando ap

Mais uma de Helena ou a Pior Idade

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Olívia Maia Ausentei-me da cidade por alguns dias. Renovando a alma e a mente em andanças sem fim. Cheguei com vontade de pegar um cineminha. Sessão da tarde de domingo. Escolhi um filme bem leve — “O último Bandoneon”. Aquele ar gelado da sala não combinou muito bem com o calor amazônico que meu corpo, ainda, sentia. Terminado o filme, fui fazer um lanche. Shopping lembra sanduíches, saladas, sucos... Sentei-me à mesa quando de repente surge Helena, amiga que não via há algum tempo. Convidei-a para se sentar. — Como estás? - perguntei. — Estou bem... Não... Não muito... Estou chateada desde ontem. Bom te encontrar, assim, posso desabafar um pouco. Desabafar! Poxa! Era a última coisa que eu queria ouvir no final de uma tarde de domingo. Depois de um filme cheio de musicalidade, dança e lição de perseverança. Pensei com meus botões: “Deve ser mais uma de suas brigas com o chefe”; coisa muito freqüente no cardápio das narrações lamuriosas de Helena. Enquanto olhava insistentemente para o

Escrever

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Clarice Lispector Eu disse uma vez que escrever é uma maldição. Não me lembro por que exatamente eu o disse, e com sinceridade. Hoje repito: é uma maldição, mas uma maldição que salva. Não estou me referindo muito a escrever para jornal. Mas escrever aquilo que eventualmente pode se transformar num conto ou num romance. É uma maldição porque obriga e arrasta como um vício penoso do qual é quase impossível se livrar, pois nada o substitui. E é uma salvação. Salva a alma presa, salva a pessoa que se sente inútil, salva o dia que se vive e que nunca se entende a menos que se escreva. Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada. Que pena que só sei escrever quando espontaneamente a “coisa” vem. Fico assim à mercê do tempo. E, entre um verdadeiro escrever e outro, podem-se passar anos. Lembro-me agora com saudade da dor de escre

Quinta das Artes - 2º Sarau do TCU

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Sonho meu

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Luci Afonso Acordo do sono profundo impregnada de lembranças. No diário que guardo há anos na gaveta do criado-mudo, registro os valiosos momentos transcorridos no mundo sem fronteiras. Tenho medo de esquecê-los, pois é neles que sou feliz. Na mesma gaveta está um antigo “Guia ilustrado dos sonhos e seus significados”, que agora consulto muito pouco, porque passei a entender claramente as mensagens que me envio quando adormeço. Nos últimos dias, um sonho se repete: sou uma casa enorme em reconstrução num vasto terreno de gramado verde-claro. Tenho vários cômodos, amplos e bem iluminados. Ao mesmo tempo em que os reformo por dentro, estou fora de mim, observando as mudanças feitas toda noite‑dia. Sem pressa, escolho a cor de cada aposento, a textura de cada parede, o mármore fresco do piso, a madeira nobre das janelas. Defino os cantos em que descansarei à sombra e aqueles onde me aquecerei ao sol. Não estou sozinha nesse lugar. Meu filho corre na grama, enquanto minha mãe prepara as se

Piquenique de gente grande

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Olívia Maia Acordei cedo. Senti que fazia muito frio. O que não esperava era que ao abrir a janela encontrasse uma chuva fina e persistente. E o piquenique? Pensei. Como sonhei com um dia de sol. Em poder tirar os sapatos e andar descalça sentindo o estalar das folhas em meus pés. Minhas lembranças criaram asas e viajaram na imensidão dos tempos vividos. Três crianças correndo pelo meio da casa em algazarra. Era a hora de preparar o piquenique. Saíamos com uma cesta de palha repleta de sanduíches, sucos e frutas. Parávamos embaixo de uma árvore frondosa e nos púnhamos a brincar. Lanchávamos. Deitávamo-nos a olhar para o céu a ver bichinhos formados pelas nuvens. Olha lá que ovelhinha bonita. E aquele patinho parece que está fazendo quá-quá — sonhar era preciso. Passear na Esplanada, ao entardecer dos domingos, e dar pipocas para os gansos. Ir ao parque. Aos canteiros floridos e perfumados. Se deslumbrar com a natureza. Mas sempre em lugares em que não gastassem dinheiro (já que era mui

Cartas a um jovem poeta (III)

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Rainer Maria Rilke De passagem por Worpswede, perto de Bremen, 16 de julho de 1903. ...bem sinto que nenhum homem pode responder às perguntas e aos sentimentos que têm vida própria no âmago de seu ser. Creio, contudo, que o senhor não deixará de encontrar uma solução, se se agarrar a coisas que se assemelham a si. Se se agarrar à natureza, ao que ela tem de simples, à miudeza que quase ninguém vê e que tão inesperadamente se pode tornar grande e incomensurável; se possuir este amor ao insignificante, então tudo se lhe há de tornar fácil, harmonioso, e por assim dizer, reconciliador. O senhor é tão moço, tão aquém de todo começar que lhe rogo ter paciência com tudo o que há para resolver em seu coração. Viva por enquanto as perguntas. Quiçá carregue em si a possibilidade de criar e moldar, como uma maneira de ser particularmente feliz e pura. Não se deixe enganar pela superfície: nas profundidades tudo se torna lei. Tudo isto que talvez um dia seja possível a muitos, o solitário pode pr

2º Desafio aos Escritores

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O Núcleo de Literatura do Espaço Cultural Zumbi dos Palmares, da Câmara dos Deputados, tem vagas para 30 concorrentes que aceitem o desafio de produzir um texto por semana, sempre a partir de um tema proposto na semana anterior. Todos os trabalhos serão, oportunamente, publicados em site próprio do concurso e talvez, em edição gráfica, os melhores contos. O site fará ampla divulgação dos trabalhos desses 30 autores. O 1º Desafio aos Contistas, realizado em 2007, foi um enorme sucesso e revelou grandes talentos. Os textos se encontram no site do Núcleo: http://literaturadecamara.sites.uol.com.br/PRINCIPAL5.htm O 2º Desafio aos Escritores começa na quinta-feira, dia 21 de agosto, às 10h. Para participar, envie seus dados ao seguinte endereço, sob o assunto “desafio aos escritores”: ecult.mesa@camara.gov.br Mais informações: h ttp://literaturadecamara.sites.uol.com.br/

71º Sarau da Tribo das Artes

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Terça-feira, 12 de agosto, 20h30 Botiquim Blues, Praça do DI, Taguatinga Ingressos:: R$5,00

T-Bom

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Luci Afonso O palco é um estrado coberto por um carpete cinza, que também compõe o cenário. No último minuto, alguém se lembra de pendurar o banner do patrocinador, uma megaempresa do petróleo. Mais ao fundo, um balcão de carnes, farofas e temperos. Ao lado, freezers com cervejinhas a 2 reais e, bem atrás, fogões rústicos onde se cozinham os caldos de frango e de carne seca com abóbora, vendidos a preços populares, sem pimenta. Um grande toldo foi aberto até a lateral da rua, e debaixo dele as mesas e cadeiras de bar disputam espaço com carros, motos, bicicletas e cachorros. A loja à direita fechou no horário comercial; a da esquerda é uma farmácia movimentadíssima, como se a esta hora todos tivessem ficado doentes. Chego às 20h, como pedia o convite. Bastou-me atravessar a rua, pois moro na quadra ao lado. Se todo deslocamento fosse assim tão fácil! Nada de dirigir, acelerar, frear, trocar marchas! Nada de estacionar! Nada de manobras! Como dizia, chego cedo e encontro os primeiros co

"Não matarás" — que mandamento é esse?

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Olívia Maia Era domingo. Estávamos, eu e um casal de amigos, em Pirenópolis. Ainda sentia o delicioso sabor da pamonha. Gargalhávamos muito sobre os planos que eu acabara de traçar para um futuro muito próximo. O de alugar uma casa naquela cidade. Durante o passeio pelas ruas simples e acolhedoras... Ia mostrando como ela deveria ser... Numa rua arborizada... Próxima a uma praça... Com portas e janelas azuis... Que tivesse “batentes” para que no final de tardes, eu pudesse sentar para prosear com as vizinhas. Tomando cafezinho... Comendo biscoitos. Onde pudesse, ainda, ler e ouvir música com as portas abertas, e sempre responder a um bom dia, boa tarde ou boa noite de um passante... Doce vida sossegada... Exclamava eu a cada casa que imaginava como o meu futuro lar. Sentamos no saguão do hotel enquanto aguardávamos taças para saborear um bom vinho que havíamos comprado para celebrar a minha mais nova decisão. A televisão estava ligada na TV Globo onde passava o Fantástico. De repente o

Cartas a um jovem poeta (II)

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Rainer Maria Rilke “Viareggio perto de Pisa (Itália), 23 de abril de 1903. ...As obras de arte são de uma infinita solidão; nada as pode alcançar tão pouco quanto a crítica. Só o amor as pode compreender e manter e mostrar-se justo com elas. É sempre a si mesmo e a seu sentimento que deve dar razão contra toda explanação, comentário ou introdução dessa espécie. Mesmo que se engane, o desenvolvimento natural de sua vida interior há de conduzi-lo devagar, e com o tempo, a outra compreensão. Deixe a seus julgamentos sua própria e silenciosa evolução sem a perturbar; como qualquer progresso, ela deve vir do âmago do seu ser e não pode ser reprimida ou acelerada por coisa alguma. Tudo está em levar a termo e, depois, dar à luz. Deixar amadurecer inteiramente, no âmago de si, nas trevas do indizível e do inconsciente, do inacessível a seu próprio intelecto, cada impressão e cada germe de sentimento e aguardar com profunda humildade e paciência a hora do parto de uma nova claridade: só isto é

Balizas e crônicas

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Luci Afonso Chegamos cedo ao local e procuramos vaga para estacionar. Encontramos uma em que caberia um caminhão, mas sou péssima em manobras. Felizmente, estou acompanhada de uma exímia motorista em diversos continentes, que se oferece para me orientar. Minha falha se deve ao fato de que, no meu tempo de auto-escola, não se ensinava a baliza lateral, e ao longo dos anos fui me acostumando a procurar vagas em que caberiam, pelo menos, dois carros, e nas quais eu pudesse entrar de frente. Caso contrário, eu voltava depois. A amiga me ensina, pacientemente, a fazer e a desfazer o volante, ao mesmo tempo me instruindo quanto ao momento certo de movimentar ou parar o carro. Sou boa aluna, e o resultado é perfeito: correto alinhamento ao meio-fio e igual distância entre os veículos da frente e de trás. Subimos tranqüilamente a rampa até o edifício-sede. Observo que, bem em frente à entrada, há vagas enormes e vazias. Indago ao segurança se são permitidas a visitantes. — Só para deficientes

“...Nem Sansão, nem Dalila, apenas dúvidas, feridas”

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Olívia Maia Sebastian estava há tempo parado próximo à Lagoa Rodrigo de Freitas. A cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro acordava com o barulho de fogos em homenagem ao seu Santo Padroeiro. Era 20 de Janeiro. — Esse Santo nunca me deu sossego. Resmungou. Santo feio e sofredor. Se ao menos fosse Jorge. Santo guerreiro que segurou a lança e matou o dragão. Mas Sebastião... Tenha Paciência! Em passos seguros aproximou-se ainda mais da lagoa. A mão arrumava os cabelos bem tratados, lavados e perfumados. A água turva da lagoa não refletira sua imagem. O barulho dos fogos insistia em acordar a cidade e suas memórias. — Tião é a puta que te pariu, ou a puta que me pariu. Seu semblante foi tomado por uma expressão de raiva profunda, ante a lembrança do pátio da escola. A algazarra das crianças gritando: Tião peidão, cara de Japão! Que direito tinha minha mãe de fazer esse pacto? Essa maldita promessa? Sebastião... Santo sofredor, feio e sem graça. Vai ver que quis imitar as passagens bíbli

Cartas a um jovem poeta

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Rainer Maria Rilke (Entre 1903 e 1908, o poeta austríaco Rainer Maria Rilke dirigiu uma série de cartas ao jovem Franz Xaver Kappus, que lhe pedia conselhos literários. Transcreveremos alguns trechos dessas cartas.) “Paris, 17 de fevereiro de 1903. Prezadíssimo Senhor, ... (o senhor) pergunta se os seus versos são bons. Peço-lhe que deixe tudo isso. O senhor está olhando para fora, e é justamente o que menos deveria fazer neste momento. Ninguém o pode aconselhar ou ajudar — ninguém. Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranqüila de sua noite: "Sou mesmo forçado a escrever?” Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples "sou", então construa a sua vid